sábado, 10 de setembro de 2011

E eu sempre vou te amar

Sinto o vento tocando meu rosto. O vento que parece soprar de todas as janelas abertas da casa vazia. É aquele vento frio que traz as lembranças de um tempo que não volta, que traz a lembrança da verdadeira solidão que me encontro. Mas esse vento é o mesmo que faz eu me lembrar de que estou viva, enquanto sentada no peitoral da janela olho para tudo a minha volta e não consigo enxergar nada.

E o vento tenta mais uma vez me despertar da inconsciência entrando forte pela janela que estou sentada e atravessando a casa, fazendo tocar um delicado sino de vento que fica na varanda. O som agradável consegue despertar a minha curiosidade e com um pulo, agora quase consciente, eu desço da janela para ir ao encontro daquilo que me chamou atenção.

Ao chegar à grande varanda vazia, que dava para a frente da casa, tive uma grande surpresa. Precisei de um minuto ou quem sabe ate dois para tentar entender o que estava acontecendo. Senti a adrenalina jorrando em meu sangue como se estivesse diante de um perigo inestimável. Meu corpo ficou paralisado, não conseguia mover um músculo e nem sequer piscar. Estava pronta para lutar, mas eu mal sabia que essa luta era interna, era a luta contra os meus próprios sentimentos.

Eu costumava dizer que o mundo poderia girar quantas vezes quisesse, mas que eu sempre estaria de volta ao mesmo lugar, amando e admirando a mesma pessoa. Quando não se tem experiência é possível dizer absurdos que só serão notados mais tarde, mas dessa vez eu não estava errada. Já estava destinada a viver sonhando com o que um dia poderá se tornar realidade e tentando aprender a viver com os pés no chão, bem longe das ilusões para não me frustrar com meus sonhos não realizados.

Enquanto estava parada analisando cada detalhe do rosto, do corpo até mesmo da postura já conhecida o vento de novo soprou e me despertou, fazendo tocar o sino de vento mais uma vez. Naquele cenário perfeito de fim de tarde, somente ao som do sino de vento suave e das folhas secas se arrastando pelo chão eu me dei de cara com quem eu fui obrigada a tirar da minha vida, mas que insistia em morar nos meus pensamentos e eternamente no meu coração.

Lá estava ele novamente, em pé com um braço atrás das costas escondendo algo, o outro esticado me chamando ao seu encontro. E eu continuava imóvel como se não fosse nunca mais me mexer. Olhava a mão esticada sem saber com que propósito ele fazia aquilo. Na verdade eu estava com raiva. Estava com muita raiva porque tinha milhões de perguntas para fazer, porque tinha tantas coisas para esclarecer, mas sabia que talvez não lhe interessasse, talvez ele não quisesse ouvir meus devaneios.

Quebrando então a corrente de pensamentos insanos que tomavam a minha mente ele deu um passo a frente e sorriu. Seu sorriso foi tão sincero que teve som, o som que eu conhecia o som que eu adorava ouvir quando o fazia rir, o som que eu não escutava mais. O rosto de menino não escondia a seriedade do que viera fazer ali. Estava diante de um homem, um homem com decisões tomadas.

Percebendo a minha fragilidade mental naquele momento e a ausência de movimentos ele deu os seis intermináveis passos que nos separavam e parou na minha frente, olhando profundamente nos meus olhos e tentando achar um motivo para a minha "ausência espiritual". Passou delicadamente e demoradamente as costas da mão livre no meu rosto fazendo meus olhos fechar, meu rosto tombar e pegar a sua mão. Por um impulso afetivo eu agarrei com a mão que não estava na dele a sua cintura e apertei o pano leve da sua blusa xadrez. Olhando fixamente o brilho dos olhos que eu já conhecia e finalmente saindo do estado de choque eu perguntei: "- Por que...?".

Então ele fez um som que reprimia minha pergunta e anulava qualquer resposta que viesse a dar, com o que me pareceu um xiiu, ele calou minha boca com um dedo e fez um movimento com o braço que até então estava escondido atrás das costas. Colocou na minha frente o que eu menos esperava o que eu mais esperava para receber. Um buque de flores. Apesar de nunca ter recebido um, aquele sem duvidas era o mais lindo de todos. Havia rosas vermelhas, orquídeas roxas, chuva de prata, lírios com nuances rosa... Perfeitamente perfeito. E depois de me deixar analisar a beleza do presente ele pegou uma das minhas mãos e disse: "- Eu estou aqui!"

Foi tudo um sonho. Antes de acordar olhei mais uma vez seu rosto, agora carinhoso e disse com toda coragem e sinceridade o que eu sabia que poderia não ter mais a oportunidade de dizer, mesmo em um sonho: "-... E eu sempre vou te amar".

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